Crise na Vinha: 2025 traz novo teste à resiliência da viticultura portuguesa
- pdsfernandes
- 27 de jun.
- 3 min de leitura
O setor vitivinícola português, assim como o de outros países europeus, enfrenta um período crítico de transformação.

A crise atual não se resume apenas a fatores climáticos ou económicos — ela é, sobretudo, estrutural e identitária. O consumo de álcool está em declínio, cada vez mais comparado ao tabaco em termos de saúde pública, especialmente após as diretrizes da OMS.
Samuel Montgermont, presidente da Vin & Société, alertou com dados contundentes: apenas 6% dos consumidores representam 55% do consumo na França. O modelo atual está esgotado — se nada mudar, a projeção é de colapso em uma década.
Mudanças nos hábitos de consumo
O tradicional formato de garrafa de 750 ml perde espaço. O consumidor moderno busca praticidade e custo acessível, favorecendo alternativas como o bag-in-box e volumes menores. No entanto, há resistência: em Portugal, qualquer embalagem que não seja a tradicional levanta dúvidas sobre a qualidade do vinho. Mas o futuro exige adaptação.
Embora os jovens rejeitem o vinho em lata, produtos inovadores como vinhos aromatizados e coquetéis à base de vinho têm ganhado tração, oferecendo uma abordagem mais leve e acessível. A aceitação de práticas antes impensáveis — como colocar gelo ou água no vinho — reflete a abertura a novas experiências.
Entre o baixo teor alcoólico e o vinho sem álcool
Essa categoria não atrai novos consumidores, apenas migra os já existentes. Por outro lado, o vinho sem álcool atrai públicos mais amplos, destacando-se como oportunidade estratégica.
Mercado travado e estrutura em crise
Mesmo com colheitas menores e arrancamentos de vinhas em alguns países, os preços continuam baixos. Isso mostra que a oferta já não dita o mercado. A ausência de impacto positivo revela uma crise estrutural. A grande distribuição perdeu relevância, e canais mais complexos e caros — como e-commerce e lojas especializadas — tomam o seu lugar.
O consumidor quer vinhos orgânicos, espumantes, com origem identificada e de pequenos produtores. Quem não atende a esse perfil, sofre mais.
O desafio da reinvenção
A OIV é clara: a vinha, em si, não está em crise. O vinho é consumido em mais países do que nunca. Reduzir ainda mais a produção, sem reformular o portfólio, é economicamente ineficaz. A solução está em apoiar a reformulação da oferta, com foco em inovação, perfil de produto, embalagens e canais de venda.
Investimentos em centros de desalcoolização, perfis de vinhos mais modernos e enxertia para maior produção de brancos são alternativas possíveis.
2026: O ano da virada?
O sucesso de 2026 dependerá não apenas do ambiente económico, mas da capacidade do setor vitivinícola de inovar. O apoio dos poderes públicos será crucial — poucos produtores têm recursos para investir sozinhos.
A crise na vinha é, acima de tudo, um apelo por renovação. Persistir nas mesmas estratégias levará ao declínio, pois como diz uma lei da Física Quântica, tudo o que não cresce morre!
ESCRITO POR:
Pedro Fernandes

Pedro Fernandes é um Enólogo português que desde os 11 anos está ligado á Vitivinicultura, onde desde cedo começou a fazer os primeiros vinhos com o seu pai e a fazer trabalhos como a poda.
Desde lá nunca parou e em 2018 decide dedicar-se ao setor do vinho, começando por fazer "tudo ao contrário". Começou por tirar cursos de especialização de vinhos como o WSET (Direct Wine) e o Wine Expertise (ISAG) em 2018/2019. Depois forma-se na Universidade de Nebrijia em Madrid, tirando um MBA de Enologia (2020). Já em 2021, com 39 anos, decide tirar uma Licenciatura em Enologia (UTAD), e contrariando todas as probabilidades, termina o curso em 2024.
Pelo caminho cria a sua primeira marca pessoal de vinho - Chãos - e estagiou no prestigiado Chateau Latour (em Bordéus).
Atualmente exerce consultoria no setor do vinho, onde desempenha um papel não só de enólogo, mas também criando uma estratégia de negócio para os produtores de vinho, com uma visão atual do mercado, onde passa pelos recursos do Marketing Digital e Enoturismo.
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